O HERÓI DA ESPERANÇA

Biografia ilustrada do Cardeal Van Thuân

Em português:


Francisco Xavier Nguyen Van Thuân nasceu no dia 17 de Abril de 1928, na cidade de Hue, antiga capital do Vietname. O seu pai chamava-se Am e a sua mãe Hiep. Thuân era o mais velho de oito irmãos e pertencia a uma das famílias mais importantes do seu país.

Thuân amava muito a sua família, e sobretudo sentia um grande orgulho por ter antepassados mártires. Thuân gostava especialmente dos seus tios Thuc, que era sacerdote, e Diem, seu padrinho, que o levavam a passear e lhe ensinavam muitas coisas sobre Deus, a vida, a história da sua família e do seu país.

Quando Thuân tinha 13 anos pediu aos pais para entrar no seminário, pois sentia que Deus o chamava a ser padre. Os pais avisaram-no que a vida no seminário era muito exigente e que, certamente, ele não iria gostar da comida. Mas Thuân estava decidido e, desde o primeiro dia, habituou-se à nova vida e comia sempre o que lhe davam. Graças à sua excelente memória, decorava tudo o que lia e aprendia, e depressa se tornou num dos melhores alunos do seminário. Também era muito bom em desporto e gostava de jogar futebol com os colegas e de nadar.

Thuân cresceu e foi ordenado sacerdote no dia 11 de Junho de 1953. O sonho de Thuân era trabalhar numa pequena paróquia de aldeia, mas o seu Bispo, D. Urrutia, disse-lhe que provavelmente isso nunca iria acontecer, pois via nele todas as qualidades para ser um bom líder. E assim o jovem padre Thuân trabalhou em grandes paróquias do Vietname, estudou em Roma e foi reitor do seminário.

Thuân amava muito Nossa Senhora e sempre que podia ia a Lourdes e a Fátima. Um dia sentiu que Nossa Senhora o estava a preparar para sofrer muito. De facto o Vietname estava à beira de uma grande guerra e os comunistas tentavam dominar o país. Alguns dos seus tios lutavam muito pela independência do Vietname e acabaram por ser mortos, entre eles Diem, o padrinho de Thuân. Foi para ele uma grande dor.

Em 1967 Thuan foi ordenado Bispo e o seu lema era: "Alegria e esperança". Nessa altura a sua cidade foi atacada pelos comunistas, que perseguiam os católicos, queriam destruir a Igreja e fazer com ninguém acreditasse em Deus. Thuân encorajava as pessoas a não desistirem de Jesus e dedicou-se de todo o coração para que a Igreja se tornasse cada vez mais viva e forte. Formou muitos rapazes para serem padres, para que não faltassem sacerdotes no tempo da guerra, e ensinava também muitos homens e mulheres para poderem colaborar nos vários serviços das paróquias. Queria que todos estivessem preparados para os tempos difíceis. Além disso ajudava os refugiados, enviando-lhes medicamentos, arroz, pão e leite.

Thuân era um bispo muito corajoso, que não tinha medo dos inimigos e por isso foi preso. Levaram-no para uma casa bastante pobre, onde só podia celebrar a Missa em particular e não tinha licença para falar com ninguém. Thuân sentia-se muito triste por não poder ajudar os fiéis. Decidiu então escrever um livro em segredo. Usava a parte de trás das folhas de calendários velhos, onde escrevia mensagens de esperança para os católicos. Depois, com a ajuda de um rapazinho que as copiava às escondidas, os seus textos foram-se espalhando por todo o lado. Quando os comunistas descobriram já era tarde... o livro já tinha sido enviado para outros países para ser traduzido e conhecido em todo o mundo! Esse livro ainda hoje existe e chama-se "O Caminho da Esperança".

Por causa disso Thuân foi levado para uma prisão muito pior. Passava o dia inteiro sozinho numa cela muito escura, apertada, mal cheirosa e sem janelas. Nunca podia sair nem falar com ninguém. Passou muita fome e sede e quando os guardas apareciam era sempre para o insultarem e maltratarem. Thuan sentia medo e angústia. Rezava e perguntava a Deus porque permitia que ele desperdiçasse tanto tempo na prisão. Percebeu então, que mesmo ali, podia continuar a amar a Deus e que isso era mais importante que todas as coisas boas que pudesse fazer se não estivesse preso. Descobriu que nunca lhe poderiam tirar Deus e o seu coração encheu-se de alegria e esperança.

Depois Thuân foi transferido para outra prisão, onde confortava e encorajava os outros prisioneiros e oferecia-se para fazer os trabalhos mais duros. Nessa altura conseguiu esculpir uma pequena cruz de madeira, que passou a usar ao peito até ao fim da sua vida. Também convenceu os guardas a deixarem que os seus amigos lhe enviassem um «remédio» para o estômago, que na realidade era vinho de missa. Assim, cheio de alegria, Thuân podia celebrar a Eucaristia às escondidas, com uma gota de vinho e um pedacinho minúsculo de pão, na palma da mão. Como Thuân se tornou amigo de todos os prisioneiros e até os guardas já gostavam dele, voltaram a fechá-lo sozinho... mas Thuân já não tinha medo e, na nova prisão, até ensinava cânticos em latim aos guardas.

Ao fim de treze anos Thuân foi libertado, mas não tinha autorização para viver no seu país. Foi para Roma e aí colaborou com o Papa S. João Paulo ll e escreveu vários livros cheios de sabedoria. Um dia o Papa pediu-lhe para orientar o retiro do Papa e dos cardeais do Vaticano! Thuan aceitou e humildemente falou-lhes sobre a esperança e contou-lhes a sua experiência na guerra e na prisão. Pouco tempo depois foi nomeado cardeal. No ano 2000 Thuân ficou gravemente doente. Aceitou todos os sofrimentos com muita paciência e agradecia sempre a Deus por tudo o que lhe tinha acontecido durante a vida. Quando já não conseguia falar, ficava a olhar para o crucifixo da parede. Thuân faleceu em paz no dia 16 de Setembro de 2002. Em 2018 foi proclamado venerável pelo Papa Francisco.

Ilustrações: ® Irmã Leonor Wemans, 2020

Texto: Padre Marco Luís

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